Uma de vocês ganhou o 1º prémio num concurso literário, what?
PARABÉNS!
A última vez que vim aqui falar da vitória de um de vocês foi quando conseguiram que uma das maiores editoras nacionais vos respondesse e fosse avaliar o vosso livro.
Um passo impressionante, aconteça o que acontecer.
Hoje, outra de vocês ganhou um prémio literário!!
Um fucking prémio literário!
Os meus parabéns.
Agora, como dizem os escritores profissionais, está na hora de te sentares, pegares noutra folha branca e começares a escrever outra coisa: outra peça de teatro, outro poema, outro livro. Há que apreciar o presente, mas continuar a escrever.
Digo isto por 2 razões:
quando eu deixo de escrever durante muito tempo fico chata, e o aborrecimento penetra-me e não me deixa ir. Fico em estado de fantasma durante semanas. E não quero que isso vos aconteça.
porque depois de terminar um grande livro, olho para uma página em branco e penso “como é que algum dia eu soube fazer isto? Como é que isto se faz?” E tenho medo que, se deixar de escrever por algum tempo, me esqueça de vez. E não me quero esquecer. Também não quero que vocês se esqueçam.
Outra razão para continuar a escrever e enfrentar a página em branco:
Porque na vossa vida (e na minha) há um velho do restelo.
Ou uma tia estúpida, ou um pai ou uma mãe ou uma avó que não lê. Nunca leu nada. Nunca conheceu um escritor, ou um artista, ou um pintor, ou um ator, e por isso, acha que o tempo que dedicas a isto é ridiculo.
Na cabeça do velho do restelo o teu esforço não só é fútil e ridículo, como é um insulto a eles. Porque devias de te dedicar a outra coisa, podias estar a lavar a loiça. Ou a cuidar deles.
Mas em vez disso estás a escrever.
A fazer aquilo que ELES não querem que faças. E já te disseram que é tempo perdido.
Por isso, quanto mais tempo tu dedicas a isto - algo que já te avisaram para parar - mais os enervas.
E todos nós escritores conhecemos um velho do restelo ZANGADO!
Mas eu gostava, do fundo do meu pequenino coração, que tu os deixasses ainda mais zangados. Continua a escrever, porque o velho do restelo não importa.
Ele vai continuar a cuspir por cima do que fazes.
E tu vais continuar a criar, vais continuar a ganhar prémios literários, vais continuar a publicar livros.
Vamos.
Mais eu escrevo e crio, mais eu percebo que nascemos para criar e para apreciar a arte dos outros. Por isso, vamos lá, partilhem o que têm feito, e o que têm escrito, para que nós tenhamos arte para partilhar.
(Sabem uma cena muito fixe que podiamos fazer daqui a uns anos? Arrendar uma sala numa galeria para mostrar as primeiras páginas dos nossos livros impressas em A2, tipo pinturas, e partilhar as páginas riscadas dos nossos cadernos. Um dia vou fazer isto, mas só acontecerá se tu escreveres alguma coisa. )
