Se eu pretendo “entrar” no mercado português, eu preciso de conhecer o mercado literário português. Parece ridiculamente simples, mas precisas de conhecer o monstro antes de dares um só passo.
Uma das únicas características do mercado português em que concordo é que o mercado é fechado: desconfia de quem não conhece e não partilha os seus segredos.
Só recentemente surgiu uma entidade que reunia as livrarias independentes, a RELI.
Uma coisa que gostava que me tivessem contado é que ninguém conceituado no mercado partilha os seus segredos.
No entanto, mesmo não partilhando os seus segredos, dá sinais: podemos estudar quem publica o quê e as estatísticas do mercado em geral.
Convém saberes que monstro enfrentas: vamos falar sobre o mercado literário português.
Os dados que se seguem são dados da APEL.
65% dos portugueses compraram o livro em 2023; 6 em 10 portugueses leem por prazer.
7% dos portugueses (700 mil pessoas) compraram 20 ou mais livros no último ano. Isto é importante porque, como nova autora, esta faixa da população é a única que me interessa. Segundo as estatísticas, há 700 mil leitores frequentes.
Na minha pobre opinião, 700 mil chegam-me.
E quem lê em Portugal? Pessoas dos 25 aos 54 anos.
As vendas online de livros físicos estão a aumentar, enquanto as vendas físicas estão a baixar.
Quais dos livros importam à editora?
Aqueles que têm potencial de vender mais: ou seja, romance, policial/thriller, romance histórico ou livros juvenis.
Pronto, este é o mercado literário português.
É pequeno? Na minha opinião, apenas em duas situações:
1) As traduções:
Maior parte dos livros ingleses tem tradução espanhola, mas não tem tradução em português. Ou quando um grande autor português é traduzido para outras línguas, já devia de ter sido traduzido faz anos.
2) As tiragens:
Quanto maior a tiragem, na gráfica, maior o lucro da editora, porque maior a tiragem, menos custa imprimir cada exemplar do livro.
Mas quando só irás vender 12 cópias do teu livro, custa mandar imprimir 10 mil.
O mercado é pequeno no sentido em que os livros “médios” de autores conhecidos venderão entre 2 a 3 mil cópias. E imprimir 3 mil livros ainda fica caro, pensado no preço por livro. Enquanto 10 mil ou 15 mil livros fica muito mais barato, por livro, para imprimir.
Os baixos lucros da editora faz com que as suas apostas tenham de ser certeiras – levando a editora a publicar/traduzir aquilo que sabe que vai vender.
Uma das maiores lições que aprendi sobre o mercado, talvez obvia, é que a editora, como qualquer negócio, odeia perder dinheiro.
Segundo as contas da Rita Canas Mendes, no seu livro «Como Publicar o seu Livro?», se o editor apenas vender 500 exemplares do livro em que investiu, ainda assim perde dinheiro na edição do livro.
Por mais que escrevas que “tens vendas garantidas” no email, isso só mostra estupidez e não relaxa o editor.
A maneira que eu encontrei para contornar as dúvidas razoáveis dos editores foi:
- Mostrar que o meu livro se encaixa num género que vende em Portugal
- Mostrar que tenho público conquistado
- Apresentar um livro que se encaixa no catálogo do editor – que este sabe que vende – e mostrar como o meu livro já foi editado e revisto por profissionais.
Gostei muito de ler o seu texto porque estou acostumado demais com o mercado brasileiro e, apesar de trabalhar no mercado editorial português, sei pouca coisa sobre o ponto de vista dos autores portugueses! No Brasil ajo praticamente só como autor e a situação é exatamente a mesma. Ao mesmo tempo, é triste como o mercado editorial pequeno em Portugal ainda parece maior do que o brasileiro (o que não é verdade, mas a sensação é essa).
Maravilhoso, Maria!! Eu escrevo não-ficção/literatura de viagem, e nesse lindo gráfico dos géneros literários, das duas uma ou não interessa ou está escondido em alguma dessas categorias. Esses gráficos são muito interessantes.