Na carta à editora, tens de explicar que o teu livro irá vender - irá tornar-se um sucesso comercial - porque ninguém quer apostar num livro que não vai vender.
A maneira mais fácil de vender o teu livro à editora…
Tal como a maneira mais fácil de vender o teu livro ao leitor final…
É explicar que o teu livro é tipo um outro livro que os leitores gostaram, mas diferente.
Os escritores ingleses costumam dizer “it’s the same, but different.” É igual, mas diferente.
O meu livro é igual a este outro livro X que tem vendido bem, apelará aos mesmos leitores, mas é diferente porque Y.
Na prática, e se trabalhares com um mentor literário ou editor, vão dizer-te para escreveres algo deste género:
Escrevi um romance histórico comercial intitulado «Um Belo Escândalo» que apela a fãs de «A Lista do S. Malcolm» e «Weyward». Apela também a fãs de romances como Bridgerton e Outlander.
E depois passas o resto do email a explicar o enredo e o que torna o teu livro diferente destes.
Igual, mas diferente.
Mas os melhores escritores conseguem criar uma categoria para si próprios.
Por exemplo, a Agatha Christie tornou-se uma das escritores mais lidas no mundo porque escrevia “whoddunit” murder mysteries. O nome da autora é sinónimo de um tipo de livros: são 60 mil palavras ou menos, há uma morte no fim do primeiro ato, e um detetive mais inteligente do que a polícia chega à verdade. No fim do segundo ato há uma cena em que o detetive explica o crime a uma sala de espectadores.
Quando pegas num dos livros do Dan Brown já sabes o que vais encontrar lá dentro: um thriller apressado, que apela a fãs de história, mistérios, e teorias da conspiração de que a igreja católica não vai gostar. Abres um livro dele e já sabes que vais ter uma aula de história, e bastantes perseguições. São 150 mil palavras de suspense.
Neste mesmo sentido, quando abres um livro do Ken Follett sabes o que vais encontrar: as histórias interligadas de várias famílias em torno de um conflito histórico, como uma guerra ou a peste negra.
Além de serem conhecidos por um género - os seus livros serão sempre colocados na mesma estante na livraria, todos juntos - eles são conhecidos por um subgénero.
Agatha Christie - mistério whodunnit
Dan Brown - thriller histórico, com comentários à religião
Ken Follett - romance histórico, onde seguimos uma ou várias famílias à volta de um conflito histórico
Julia Quinn - romance histórico, centrado à volta de uma relação romântica
Os maiores fãs destes escritores poderão identificar e caracterizar o subgénero dos seus livros melhor do que ninguém, tal como se o subgénero que escrevem - e o que os segue para a vida - fosse a sua imagem de marca.
O subgénero em que escrevem atrai determinado público que os segue porque gosta de ler aquelas histórias.
Dentro do romance histórico, ou do thriller, em que existe tanta coisa já escrita mesmo antes destes escritores começarem a escrever, estes escritores criaram uma categoria (ou subgénero) de um escritor.
Ou seja, dentro de um género cheio de bons livros, estes escritores recombinaram elementos que gostavam de outros livros e criaram uma marca só sua - um subgénero que só eles escrevem.
Se eu escrever um mistério “whodunnit”, vou ser comparada a outros escritores que também escrevem nesse subgénero.
E quando se começa a comparar escritores ninguém ganha.
Mas eu posso escrever “whodunnit” numa universidade: The Secret History
Posso escrever um “whodunnit” onde o detetive é um médico: House, M.D.
Posso escrever um “whodunnit” na Inglaterra Vitoriana, onde a detetive é uma mulher: Miss Scarlett and the Duke
E de repente o que parecia um subgénero ocupadíssimo, tenho um sub subgénero só para mim, onde posso brincar à vontade. Não vou ser comparada com outros escritores porque eu escrevo livros diferentes - noutra categoria - dos que já estão no mercado.
É assim que se completa a ideia de “igual mas diferente” no mundo da escrita, e consegues centenas de milhares de leitores no processo.
Agora, como se cria uma categoria só para mim?
Toda esta ideia vem do livro «Category pirates» de Nicolas Cole. O que disser vem do livro, não inventei nada.
Estou a ler o livro uma segunda vez, para tentar mastigar bem o que lá está dentro.
Para não inventar uma categoria, vou falar sobre mim:
Desde de 2020 que escrevo romances históricos.
O romance histórico é uma estante grande na Fnac:
Muitos destes livros são sobre mulheres - o que é óbvio sendo que maior parte dos leitores são mulheres.
Segundo Nicolas Cole: os leitores adoram a tua categoria, não te adoram a ti.
Segundo Seth Godin: escreve para a menor audiência possível, porque escrever para todos é escrever para ninguém.
Assim, como é que eu crio uma categoria para a menor audiência possível?
Eu escrevo romances históricos para fãs de música pop e Bridgerton, onde os homens malcheirosos não entram.
Com «Brinquedos Para Rapazes», fiz uma promessa que quero manter:
(deixa o email aqui e envio-te o livro)
Escrevo sobre mulheres bravas e homens que cospem para o chão - e sobre a relação antagonista entre estes dois.
Agora faço outra promessa: sim, escrevo romance histórico sobre mulheres bravas, mas onde a parte romântica do livro não desaponta.
Então:
Romance histórico: mergulhando em grandes eventos históricos verdadeiros com personagens fictícias. Escrita simples.
Romance de Bridgerton: homens giros, dança, banter, enemies to lovers.
Tudo isto ao ritmo de um thriller de Dan Brown.
Eu escrevo romances históricos para fãs de música pop e Bridgerton, onde os homens malcheirosos não entram, ao ritmo de um thriller.
Por agora é este o rascunho que tenho.
A ideia de escrever um bom romance histórico (80 mil a 120 palavras) ao ritmo de um thriller assusta-me. Alguns podem dizer que isto é um erro - que o género do romance histórico é por natureza lento.
Ok, sim, pode ser mais lento…
Mas não significa que seja aborrecido. Com esta “regra”, muitos escritores já aborreceram os leitores com “fluff”. E já ninguém tem tempo para ler fluff.
Por experiência própria, aplico as leis do thriller a tudo o que escrevo. Tem dado resultados positivos.
Além disso, tanto Ken Follett como Dan Brown mantém as pessoas entretidas por 600 páginas. Há de haver maneira de não aborrecer o leitor.
Outra coisa que me recordo é que não sou capaz de estar verdadeiramente sozinha nesta “categoria de 1”.
Por exemplo, as séries “Miss Scarlett” e “The Arful Dodger” são histórias “históricas” centradas em mulheres onde o ritmo é apressado…
Tenho de especificar ainda mais o subgénero onde os meus livros se irão inserir.
Eu escrevo romances históricos sobre mulheres ambiciosas, com a intensidade de um thriller e as cores pasteis e romance de Bridgerton, onde homens malcheirosos não são heróis, mas os derrotados.
Por mais que isto não seja específico o suficiente, é melhor do que:
“Eu escrevo romance histórico”.
O problema é que, se eu me apresentar ao mercado como “escrevo romances históricos”, vou ser comparada com outra pessoa que também escreve nesse género, e nenhuma de nós ganha - porque na verdade somos diferentes.
Talvez mais importante: os romances históricos portugueses como “O mensageiro do rei” do Moita Flores preocupa-se em contar a queda da monarquia pelo ponto de vista de personagens masculinas.
Eu hei de escrever sobre a queda da monarquia do ponto de vista das mulheres.
Parece uma diferença pequena, mas o resultado será diferente.
E porque apelidarão esse livro de “chick lit”, vai ser publicado por uma editora diferente, e lido por pessoas diferentes. Ainda bem - eu não escrevo ficção literária, eu escrevo ficção comercial.
E tu?
Já pensaste em fazer um diagrama com os tópicos de que gostas? Já pensaste como é que te podes diferenciar de outros escritores no teu género?
Boa sorte.
Isto foi o que eu aprendi com o livro “Snow Leopard” de Nicolas Cole.