Steven King recebeu tantas cartas de rejeição nos primeiros anos… que encontrou um bom método para resolver o seu problema!
Martelou um prego na parede. Cada rejeição que vinha era lá pendurada, como uma camisa velha.
O escritor encheu o prego com tanto papel que acabou por cair!
Quando o prego caiu…. Steven King deixou de escrever? Não. Arranjou outro prego.
Mais tarde, quando deixou os contos e escreveu “Carrie”, o livro foi rejeitado por 30 agentes literários. O próprio pensou em desistir do livro, numa altura em que deitar as páginas do manuscrito ao lixo era fazê-lo desaparecer de vez.
A mulher pegou em “Carrie” e salvou o livro da insignificância.
O resto é história.
Vamos falar de rejeição?
Como um abraço, os escritores quando veem um novo escritor, sentem que têm uma obrigação. Falar-lhe da quantidade absurda de rejeição que carregam às costas.
A primeira coisa que saíria da minha boca se te conhecer: agarra-te bem e prepara snacks. Porque a candidatura às editoras portuguesas é uma trincheira prenha de lama num dia de chuva.
Agarra-te bem e prepara snacks. Tens que passar pelas trincheiras se queres o teu livro na bertrand.
Ganha quem aguentar mais tempo na trincheira. Por isso aguenta. Enquanto estás rodeado pelo corpo de amigos a ser comido pelos ratos. A gripe espanhola espalha-se pelos sobreviventes. E há fogo inimigo todas as noites.
Bem vindo!
Eu já passei pelas trincheiras duas vezes. Com dois policiais. Julho de 2018 e Abril de 2019.
A minha experiência não foi horrível. Mas desanimadora.
Honestamente, os livros que tentei publicar não estavam prontos. Esse pode ou não ser o teu problema.
Há um monte de razões pelas quais as editoras rejeitam livros… mas mesmo assim, fiquei a pensar que era eu que não sabia escrever. Que me rejeitavam a mim, e não aos livros …
Aliás, em 2018, as editoras tradicionais pareciam-me o único caminho para o sucesso.
Mas o “caminho para o sucesso” já não é uma estrada de terra batida que tem lama de vez em quando. Em 2023 já não há apenas um caminho certo.
(E não, a auto publicação não te salva da rejeição. Salva-te apenas do silêncio das editoras.)
Então, como é que eu tento lidar com a rejeição?
defino bem o que pretendo
O que queres da vida de escritor? Queres ter os teus livros nas mãos? Queres o prestígio dos prémios literários? Queres a sala cheia de leitores? Queres traduções e um filme? Queres uma conta bancária para um iate?
Tudo isto é possível. Mas não são todos possíveis.
Por isso, escolhe bem o que tu queres.
Qual é o teu maior sonho em relação aos teus livros? Estuda-o bem. Delineia-o bem.
(alguns escritores vão dizer-te que o teu sonho é inalcançável. Mas se eles não têm o mesmo sonho que tu, então não estão a caminhar na tua direção, por isso a voz deles não importa. Luta por o que tu queres e pronto. Ouve quem caminha na tua direção e esquece o resto.)
E quando tiveres um plano com uma meta específica, vem a melhor amiga dos escritores, rejeição.
“a rejeição é normal.” mas não sabe a normal. Sabe a merda.
O prémio leya tem cerca de 1000 candidaturas por ano.
Há anos que nem 1 livro é escolhido.
Como a candidatura tem que ser enviada por correio e impressa em quadruplicado, eu entretenho a ideia que os escritores que se candidatam já editaram a sua obra; e que todos esses livros teriam algum potencial.
Por isso, gosto de pensar que todos os anos, os portugueses até aos 40 escrevem cerca de 3000 bons livros por ano: 1000 que são candidatos ao Leya; 1000 livros de literatura de género que nunca ganharia o Leya; outros 1000 livros que ainda não estão prontos mas que mesmo assim são enviados às editoras (os impacientes que enviam material não editado (eu! Hi, Im the problem its me.).
3000 livros seriam 12 candidaturas de publicação a editoras tradicionais cada dia útil de trabalho.
Não sei se esses números se chegam à realidade, mas se falhei foi por defeito.
Conhecer os número (mesmo que por defeito) ajuda-me.
Conhecer a competição (embora amigável) ajuda. Otimismo informado.
2. tento encarar o processo de envio e a espera como algo para a vida:
Num podcast sobre hollywood e o envio de pilots (o primeiro episódio de uma série) a produtores, o produtor entrevistado dizia ao escritor que entrevistava:
ABQ - always be querying
“É importante estar sempre a enviar novas cartas de apresentação [personalizadas] a produtores, se não conheces ninguém na indústria .”
Eu nunca pensei desta forma.
Via cada livro como completamente independente, e o processo de submissão às editoras como uma coisa única e penosa, que tinha um começo e um fim depois de eu acabar o livro.
Mas agora penso neste assunto cada vez de maneira diferente.
Se um dos maiores conselhos da comunidade é “continua a escrever” enquanto envias o livro às editoras….
Então, pensa no envio e na rejeição como parte da vida do livro.
Já falei sobre o desafio dos 100 nãos - e continuo a acreditar muito nele.
E que tal ter uma folha com 100 números para cada livro?
https://austinkleon.com/2021/01/07/100-day-practice-and-suck-less-challenge/
Vou preenchendo enquanto escrevo outra coisa. (eu já estaria a escrever outra coisa de qualquer das formas por isso… é apenas uma questão mental de me focar no que estou a escrever e no que controlo).
Vou focar-me na escrita e revisão.
Depois de um certo livro estar acabado, é como se mudasse de gaveta. Da gaveta do “material em que estou a trabalhar”, e passa para o “vender eventualmente”.
No meu tempo livre, nos sábados à tarde, dedico-me ao material dessa nova gaveta. Procuro uma nova casa para o livro. Se chegar aos 20 ou 30 emails mandados e ninguém me responder, deixou o livro descansar.
No próximo sábado à tarde, dedico-me ao resto do material que estiver na gaveta do “vender eventualmente” e começo a preparar a carta de apresentação de outro livro que esteja pronto.
Antigamente pensava que depois do livro estar pronto ia parar um mês ou dois para o enviar às editoras - afinal, era um passo importante na vida do livro!
Agora penso na candidatura às editoras como uma coisa normal da vida do livro. Para se ir fazendo.
Mando para uma editora de cada vez, com uma carta personalizada.
Se ninguém responder em 3 meses, vou arrancar do livro as 10 páginas que enviei para as editoras e envia-las aos meus leitores beta novamente. Posso reescreve-las? Posso melhora-las? Há algum erro grave na sinopse? O tema do livro é popular?
Mas a sorte do livro não se decide naqueles 6 emails. Se não vender este ano, vende para o próximo: com uma carta nova, com as primeiras páginas melhoradas.
O que quero dizer é que, nunca mais no meu calendário vais dizer “submissão às editoras” num longo período de tempo, que acabe e termine.
Foco-me no que controlo - a produção literária.
O envio às editoras vai começar a ser algo feito para o resto da vida, e não num mês especifico.
Luta para que 15 min por dia sejam para planear e executar o plano da tua carreia de escritor.
Encontra um bocadinho todos os dias para o networking digital com escritores e editores, para melhorares as tuas cartas de apresentação, melhorares a tua bio de escritor, enviar o teu trabalho a premios literários…. ect.
Só porque eu peço que sejas persistente, não significa que envies 10 mil emails.
Não faças com que te bloquem. Ou que conheçam o teu nome como rude, ou não profissional.
Respeita o trabalho da editora. Vai melhorando a tua escrita.
A escrita e a publicação são dois rios que correm paralelos. Vou trata-los como tal.
É preciso também ligar esta ideia à ideia do “Ship It” do Seth Godin.
Além de escrever, e estudar a escrita e storytelling, e todo esse mundo…. no fim, é preciso ter a responsabilidade de “enviar” o trabalho. De dizer que está terminado, e como terminado, conheça o público.
“Mas eu quero que o meu livro tenha um público! claro! Só que ninguém responde aos emails!”
Sabes que há novas editoras que respondem aos emails? Sabes que podes publicar o teu trabalho sem uma editora?
Mas se realmente queres Aquela editora…. e que tal publicar o teu primeiro capítulo?
Eu tenho este medo, de me esconder por detrás do “mas o mercado é difícil e eu estou à espera que a editora me aceite.”
Eu acho que um escritor à espera fica sempre à espera. Tal como um objeto em descanso tende a ficar em descanso, um objeto em movimento tende em ficar em movimento. Tal como um escritor em movimento, tende em ficar em movimento.
Mas o que é que eu posso fazer?
Podes editar a tua carta de apresentação.
Podes editar o primeiro e segundo capítulo do teu livro. Podes encontrar outros leitores beta.
Podes fazer outro (sim, outro) curso de escrita, e enviar quatro ou cinco emails ao professor para este rever as tuas primeiras cinco páginas, e finalmente te contar por que é que os editores, só com aquelas páginas, entendem que o teu livro não é uma boa aposta comercial.
ou seja, confia que há alguém que sabe aquilo que tu não sabes. E em vez de reclamares, tenta chegar-lhe.
3. Não desistir no primeiro “não” é uma vitória em si. Celebra.
Em qualquer degrau da tua carreira de escritor - o teu primeiro paragrafo, o primeiro “fim”. o primeiro comentário ao teu livro que te deixa triste, a primeira reescrita, o primeiro email às editoras… - pensa que há escritores que desistiram aqui.
Há escritores que desistem aqui.
Que deixaram o livro a meio.
Que nunca o editaram.
Que desistiram depois do primeiro, ou do segundo não.
Todos os escritores publicados já foram rejeitados.
Ser rejeitado significa que acabaste um livro e editaste tal livro, e que recebeste feedback no livro.
(Peço desculpa a quem já me enviou livros para que eu desse feedback. Se te sentiste desconfortável, remendo-me. Peço desculpa se as minhas palavras te doeram. Espero que não me tenhas achado rude. A primeira vez que uma escritora comentou o meu trabalho, destruiu o meu livro. Destruiu-o, e deitou gasolina às páginas rasgadas…. mas explicou-me como podia escrever uma versão do livro ainda melhor. E tinha razão em tudo o que disse. Foram nas vezes que me senti desconfortavel a receber feedback que cresci mais como escritora.)
Só NÃO foram rejeitados por editoras aqueles que NUNCA tentaram.
4. ficar triste é normal, o que não é saudável é permanecer triste
Se me rejeitaram é porque o meu trabalho não vale nada. Não escrevo nada de jeito. Nunca escrevi uma boa personagem. Sou horrível nisto…. - eu.
Este tipo de conversa dentro da tua cabeça só vai fazer uma coisa: deitar-te abaixo.
Se acreditares nesta voz na tua cabeça e lhe entregares a tua confiança, essa voz vai engolir a tua brilhante carreira e tu vais ficar miserável. E morrer com um livro inacabado num computador velho.
Não é isso que queres para ti.
Embora um sussurro destes seja difícil de evitar, tens que entender que a rejeição não é pessoal.
O outro extremo é achar que nada é culpa tua - que o teu livro é brilhante e ninguém te entende.
Isso pode ser verdade, mas as chances disso acontecer são muito pequenas.
Por isso: estuda o mercado e melhora a tua escrita.
E que tal novos leitores beta? Olhos novos no teu livro? Isso nunca doeu.
Não leves as rejeições a peito. Não te rejeitaram porque não gostam de ti.
(embora pensar assim seja fácil).
Mas também não te livres de toda a responsabilidade.
5. A candidatura às editoras é como o Tinder…
É preciso ser paciente e entender que a edição e publicação é uma coisa de encaixe com a pessoa certa do outro lado, e não uma operação matemática.
“it’s a number’s game” como diz a empresária Leila Hormozi (sobre encontros).
Se enviaste vários projetos (um de cada vez) e já enviaste 99 emails…
tens mais probabilidades do que a pessoa que enviou 3 …
Não desistas deste livro só porque não encontrou a sua casa.
O editor que precisas pode ainda trabalhar como jornalista.
A casa editorial que procuras pode ainda nem existir. (o que aconteceu ao Bruno M Franco quando escreveu o Segredo Mortal, mas ele sabia que não queria uma vannity press…. daí a importancia do ponto1).
6. E se me cansar de esperar?
Tu queres uma chance. Uma chance.
Queres que alguém olhe para o teu livro e te dê uma chance.
Há tantos escritores que conseguiram…. e tu só precisas de uma oportunidade….
Eu entendo-te perfeitamente.
O teu sonho parece estar tão perto e ao mesmo tempo está tão longe…
Se tu realmente queres uma chance, procura as editoras mais pequenas. Há 2 ou 3 editoras pequenas que se dedicam. E se tu queres uma chance… serão a tua maior oportunidade.
Melhora o teu livro. Melhora o começo do teu livro. Obsessa sobre as primeiras 10 páginas.
Manda mensagem a todos os escritores do teu género nessa editora. Primeiro, dá valor à outra pessoa. Lê o seu livro. Comenta as coisas que eles fizeram bem. Conversa com eles. Podes ajudá-los de alguma forma? (Divulgação nas redes sociais?) Depois de ajudares, pergunta se a pessoa se importava de ler e comentar as tuas 10 páginas iniciais. Só um dos escritores dirá que sim, mas as notas que ele te dará vão ajudar-te a rever o teu livro e a melhorar como escritor.
Estuda que livros foram aceites pela editora: estuda as suas primeiras 10 páginas. O que fizeram bem? O que fizeram mal?
Escreve uma carta de apresentação personalizada.
Cria uma conta de Linked in. Descobre quem são os profissionais por detrás da editora. De que gostam? Que profissionais seguem?
Cria um pitch para o teu livro irresistível. Porque é que o teu livro é único dentro do seu género?
Cria audiência. (sim, eu sei. toda a gente fala sobre isto.) Ajuda o editor (provavelmente o dono) da editora a acreditar que o teu livro ALÉM DE UMA BOA HISTÓRIA, SERÁ UM SUCESSO DE VENDAS.
Repete.
Há muito o conselho de “ser paciente”.
Uma coisa é verdade: tens que ser paciente para conseguir alguma coisa na edição tradicional. É um monstro que se move devagar.
Mas ser paciente não é apenas sentar-te e esperar que algo acontece.
É trabalhar na sombra.
O que podes fazer na sombra para que o teu livro tenha sucesso, se a editora o aceitar?
Podes começar a falar sobre as personagens do teu livro. Podes falar sobre a quantidade de rascunhos que levou a ser escrito - e o que aprendeste com cada um deles.
O trabalho do escritor é sempre encontrar novos leitores. Podes começar hoje.
Também é importante saber bem qual é o teu objetivo.
O que queres?
Se apenas quiseres leitores, e algum dinheiro para comer, pensa na autopublicação.
Ao contrário do que muitos pensam, a autopublicação não é para escritores que não foram aceites pela edição tradicional.
A autopublicação é para os escritores que querem controlo sob o processo - e estão prontos para ter a responsabilidade sob todas as partes do processo.
Na autopublicação, não tens que fazer tudo sozinho. Podes pedir ajuda de profissionais. Mas terás que pagar por tudo isso à cabeça. Mas vale a pena, se tens controlo de todo o processo.
Mas se quiseres o prestigio e os prémios literários, terás que eventualmente encalhar pela edição tradicional.
Lembra-te que há cada vez mais pequenas editoras à procura de escritores.
O que eu farei? Se o meu livro for rejeitado por todos, eu vou ingressar em alguns cursos de escrita criativa. Para melhorar e conhecer outros escritores.
E depois tentar novamente…
Mas se ninguém quiser o livro? Mesmo?
Então vou autopublica-lo. O meu livro durante a revolução francesa vai sair até maio de 2025. Aconteça o que acontecer.
Mas esta é uma decisão estudada. Eu li bem os termos e condições e estou pronta para pagar por publicidade e um editor e um revisor e um ilustrador. Não vou autopublicar sozinha.
É uma opção que todos têm que estudar.
Uma última nota:
Cada rejeição é uma lição, um lembrete de que o caminho para o sucesso não é pavimentado com triunfos ininterruptos, mas pontuado por fracassos. É através da rejeição que evoluímos, que aprimoramos nossa arte, que eliminamos o supérfluo e emergimos como escritores melhores.
As rejeições forçam-nos a questionar, a reescrever, a revisar até que nossas palavras cantem com a clareza e o poder que imaginamos. Elas são o filtro necessário que separa o medíocre do excepcional, o comprometido do casual.
O que seria o teu livro se nunca o tivesses editado?
Quais são essas pequenas editoras que estão a aceitar novos autores? Listas precisam-se.