Como enviei o meu livro às editoras tradicionais
Como cheguei a 4 editoras interessadas e 1 contrato de edição
Eu recebi um contrato de edição de uma editora tradicional para o meu romance histórico sexta-feira, dia 20 de setembro de 2024, às 18:00 certas.
Parecia um bom final para tantos anos de luta…
até dia 20 de setembro de 2024 eu cometi muitos erros. Muitos erros! Esta é uma tentativa a mostrar o que tenho aprendido - porque sou estudante da arte da escrita - e mostrar o que fiz e os resultados. Principalmente, isto serve para eu mostrar os meus erros. Esta é uma tentativa de mostrar os meus erros e o que fiz para os corrigir.
Já tentei vender 3 livros. Este foi o primeiro a ter qualquer resposta.
Demorei quase quatro anos a escrever o meu romance histórico sobre a revolução francesa (o meu quinto livro). Enviei 29 emails em agosto, para apresentar o meu livro às editoras.
Tive bastantes respostas – raro no mercado português:
Tive 4 editores interessados em ler o livro completo.
Tive 2 reuniões com editores.
Recebi uma proposta de edição de uma editora tradicional.
Receber um contrato de edição para um livro que demoraste quatro anos a escrever é um momento marcante.
Então, como enviei o meu livro às editoras?
Em 2019, cometi muitos erros ao enviar o meu livro às editoras.
Em 2024, aprendi muito sobre a candidatura às editoras.
Vamos?
Em abril de 2024 fiz um curso “Como enviar o seu livro às editoras”, com uma editora da LEYA a apresentar a informação. Paguei 150 euros – o que para uma estudante universitária na altura bem pareciam ser 1500 euros – e saí daquelas 10h de aula a saber o mesmo.
Ou melhor, confirmou que o que eu já tinha aprendendo no Youtube estava correto.
Na verdade, partilhei no curso um pouco da minha experiência com as editoras portuguesas – à data já tinha tentado vender DOIS policiais em 2019, com trágicos resultados – e a editora da LEYA, ali “professora”, ficou espantada com a minha decisão de fazer o curso quando eu respondia correto a algumas das perguntas que fazia sobre o mercado literário. Ela achava que eu não precisava do curso. Talvez tivesse correta.
Este guia vai explicar os meus erros a enviar o meu livro às editoras, e vou tentar explicar o que aprendi e o que fiz em agosto e setembro de 2024.
Pesquisei muito sobre este assunto, mas em agosto e setembro – meses de “ação” – aprendi muito.
Mandar o meu livro às editoras e convencê-los a investir em mim não é uma ciência.
Não há uma fórmula certa ou uma fórmula errada.
Esta foi a forma que encontrei… e que teve o seu sucesso. Se quiseres bater às portas das editoras de forma diferente, força.
Eu sou estudante da arte da escrita. Já cometi muitos erros… mas escritores verdadeiros não guardam segredos.
1. Os meus erros
A primeira vez que enviei um email à editora:
1. Enviei um livro que não estava pronto nem revisto (sim, já enviei um primeiro rascunho à editoras, é a verdade).
2. Enviei email a editoras portuguesas que não publicavam escritores portugueses
3. Não enderecei o email a ninguém. Escrevi “Caros editores”.
4. Não conhecia o mercado português.
5. Sem saber o que escrever na “bio de escrever”, disse que era a melhor jovem escritora do país. Quem abriu o meu livro, riu-se.
Escritores verdadeiros não guardam segredos.
Agora que me envergonhei, não cometas estes erros.
2. O Mercado Literário Português
Se eu pretendo “entrar” no mercado português, eu preciso de conhecer o mercado literário português.
O Mercado literário Português é fechado: desconfia de quem não conhece e não partilha os seus segredos.
Só recentemente surgiu uma entidade que reunia as livrarias independentes, a RELI.
Uma coisa que gostava que me tivessem contado é que ninguém conceituado no mercado partilha os seus segredos.
No entanto, mesmo não partilhando os seus segredos, dá sinais: podemos estudar quem publica o quê e as estatísticas do mercado em geral:
Antes de escrever, tens de saber quem lê em Portugal:
65% dos portugueses compraram o livro em 2023; 6 em 10 portugueses leem por prazer = 6 milhões de pessoas, e uns trocos.
7% dos portugueses (700 mil pessoas) compraram 20 ou mais livros no último ano. Isto é importante porque, como nova autora, esta faixa da população é a única que me interessa. Segundo as estatísticas, há 700 mil leitores frequentes.
A mim, 700 mil chegam-me.
Quem lê em Portugal? Quem é o teu público alvo? Pessoas dos 25 aos 54 anos.
Que livros importam à editora?
Aqueles que têm potencial de vender mais: ou seja, romance, policial/thriller, romance histórico ou livros juvenis.
Pronto, este é o mercado literário português.
É pequeno? Na minha opinião, apenas em duas situações:
As traduções:
Maior parte dos livros ingleses tem tradução espanhola, mas não tem tradução em português. Ou quando um grande autor português é traduzido para outras línguas, já devia de ter sido traduzido faz anos
As tiragens:
Quanto maior a tiragem, na gráfica, maior o lucro da editora, porque maior a tiragem, menos custa imprimir cada exemplar do livro.
Mas quando só irás vender 12 cópias do teu livro, custa mandar imprimir 10 mil.
O mercado é pequeno no sentido em que os livros “médios” de autores conhecidos venderão entre 2 a 3 mil cópias. E imprimir 3 mil livros ainda fica caro, pensado no preço por livro. Enquanto 10 mil ou 15 mil livros fica muito mais barato, por livro, para imprimir.
Os baixos lucros da editora faz com que as suas apostas tenham de ser certeiras – levando a editora a publicar/traduzir aquilo que sabe que vai vender.
Uma das maiores lições que aprendi sobre o mercado, talvez obvia, é que a editora, como qualquer negócio, odeia perder dinheiro.
Segundo as contas da Rita Canas Mendes, no seu livro «Como Publicar o seu Livro?», se o editor apenas vender 500 exemplares do livro em que investiu, ainda assim perde dinheiro na edição do livro.
Por mais que escrevas que “tens vendas garantidas” no email, isso só mostra estupidez e não relaxa o editor.
A maneira que eu encontrei para contornar as dúvidas razoáveis dos editores foi:
- Mostrar que o meu livro se encaixa num género que vende em Portugal
- Mostrar que tenho público conquistado
- Apresentar um livro que se encaixa no catálogo do editor – que este sabe que vende – e mostrar como o meu livro já foi editado e revisto por profissionais.
3. O manuscrito
Para relembrar – gostava de te explicar como escrevi o corpo do email enviado às editoras. Mas qual é o objetivo do email?
É que o editor ou assistente editorial tenha curiosidade em ler o livro que anexaste, e se gostar do livro, o publique:
Boa carta + Bom livro = contrato de edição
Má carta + Bom livro = o autor é ignorado.
No entanto, por vezes esquecemo-nos que o que importa é o livro.
Se o livro não for espetacular, ou se não cumprir regras do género onde se insere, o livro não será publicado, e se for publicado, será odiado pelos leitores.
Ou seja:
Boa carta + Mau livro = o autor é ignorado.
Claro que o meu livro é incrível, passei quatro anos a escrever o livro e foi revisto por um profissional.
Ok, mas cumpre as regras do seu género? Enquadra-se num dos géneros que mais vende em Portugal?
Em 2024, eu tentei publicar um romance histórico sobre duas mulheres, uma portuguesa, e outra inglesa, mas a ação decorre em Londres e Paris.
— Mas decorre em Portugal? — Era a pergunta de toda a gente quando eu comentava que estava a escrever um romance histórico.
Eu não sei por que as editoras portuguesas não querem investir em livros que decorrem noutros sítios, já que lemos tantos livros traduzidos, mas pronto – sei que é assim.
E o meu livro não preenchia essa categoria. Erro meu. Ou seja, o meu livro não preenchia as regras do seu género.
Se queres uma editora tradicional, tens de jogar pelas regras deles.
Uma dessas grandes regras: VINDO DE UM NOVO AUTOR, o livro tem de ser incrível.
Tens de te candidatar às editoras com um livro que eles publicariam e com o qual ganhariam dinheiro para cobrir o investimento.
As editoras são negócios com pouco lucro. Só investem em livros que lhes dará um retorno confortável – só investem em livros semelhantes a outros livros que explodiram no passado.
Se escreveste um livro de nicho, que poucas pessoas comprariam, nunca vão investir no teu livro, porque sabem que não se tornará no próximo bestseller.
Se queres que as editoras achem que o teu livro é viável, e lhe peguem com entusiamo, tens de provar no email de candidatura que o teu livro vai vender o suficiente para que o investimento tenha lucro.
Como?
Importa saber como é que um negócio faz lucro: Menos custos + mais rendimento.
Ou seja, neste caso: O teu livro é barato de produzir + venderá muito.
Ou seja:
1. a editora não terá muitos custos com edição do livro (edição do livro + revisão ortográfica)
2. o autor já tem público conquistado (os custos de marketing serão menores)
3. livros parecidos com o teu manuscrito já vendeu bem em Portugal / o tema é popular o suficiente para vender bem. (mais rendimento)
Apostar dinheiro num livro é arriscado. Por isso as editoras procuram apostas seguras.
Como é que algum livro se torna uma aposta segura?
Garantindo pouco investimento da editora e grande chance de lucro.
Eu passei muito tempo a pesquisar o mercado e quem é que publicou livros semelhantes aos meus.
Responde a estas perguntas pensando no teu livro:
O meu livro encaixa-se bem num só género? Pretendo continuar a escrever nesse género?
É um género popular?
Qual foi o livro que mais vendeu nesse género em 2023? E em 2024?
Quais são as autores portugueses que publicaram nesse género em 2024? Quantos livros é que esses autores já publicaram nesses géneros?
Com que editoras é que esses autores portugueses publicaram? Foi com essa editora que publicaram o seu primeiro livro?
Quantos seguidores têm esses autores nas redes sociais? Têm uma newsletter? Têm um site?
Em que altura do ano publicaram o seu livro? O que me lembro da campanha de marketing da editora?
Mais tarde, a pesquisa continua.
Mas por agora, temos de pensar no teu livro e na carreira de escrita que queres ter. Já te perguntaste o que queres da escrita?
Eu sei que quero continuar a escrever e publicar romances históricos no futuro. Semelhantes àquele que eu tentei publicar, mas agora sei que têm de decorrer em Portugal.
E tu? O que queres da escrita?
As editoras gostam de autores que escrevem vários livros dentro do mesmo género, porque o dinheiro que gastarem a conquistar público não será atirado ao rio.
Maior parte dos escritores de ficção comercial, ao mergulhar num género literário, ficam a escrever nesse género durante anos:
Por exemplo: Ken Follett, Patterson, Danielle Steele ect…
podes escrever em vários géneros… isso é contigo. No entanto, convém pensares sobre isso antes de embarcares.
Eu vou escrever ficção comercial até morrer. Começarei com romances históricos, mas eventualmente, com este nome ou outro, escreverei policiais e romances contemporâneos, mas os primeiros serão todos do mesmo género.
Ok, tomada essa decisão…
está na hora de aprimorar os primeiros capítulos
Eu editei os meus primeiros capítulos até os meus dedos sangrarem. Não me arrependo.
À editora vais enviar cinco mil palavras do teu livro – ou quantas páginas pedirem no site deles, em A4, Times New Roman letra 12, espaçamento 1.5 texto justificado. Podes colocar o teu nome e email no rodapé das páginas que enviares – eu não fiz isto mas acho uma precaução adequada.
A primeira página terá o título do livro e o teu nome, e o teu email.
Se tens uma capa para o teu livro, ou há uma imagem de que gostes, guarda-a para ti.
Para enviar em anexo:
as primeiras 5 mil palavras do teu livro;
um resumo de 2 páginas
O resumo de 2 páginas do livro inteiro é o mais doloroso de escrever e aquilo que adiei o mais que podia. Eu odiei escrever o meu.
Se estás com dificuldade a escrever o teu resumo:
Divide por atos – como começa a história? Como acaba o ato 1? Qual é o plot-twist do meu livro? O que acontece no climax? Como acaba o livro? Descreve cada um deles num parágrafo.
Pede a um amigo que leia o resumo, para teres a certeza que está lá tudo e que o resumo faz sentido. Ou seja, quem apenas lê o resumo consegue perceber que o teu livro tem um princípio meio e fim que segue as regras da causa e efeito?
Se respondeste “Não”, volta para trás.
Reescreve o resumo do teu livro. Vai valer a pena, acredita.
Em relação aos primeiros capítulos:
Os teus 3 primeiros capítulos têm de estar perfeitos!
Principalmente as tuas primeiras 500 palavras.
Se tudo correr bem, consegues prender a atenção do editor, e ele abrirá os primeiros capítulos do livro. Se não o prenderes nas primeiras 500 palavras, o jogo está perdido.
Eu consegui um feedback positivo pela Flávia da página Carreira Literária – ela revê 4 páginas de texto de vários escritores todas as terças-feiras. Ela gostou do meu texto, o que confirmou a minha decisão.
Por isso, peço-te: revê as tuas primeiras 500 palavras novamente.
Precisas de causar uma boa impressão!!!
Revê a porra das primeiras 500 palavras novamente. Faz isso por ti.
Resumindo, os teus primeiros capítulos precisam de ser incríveis. E precisam de ser incríveis porque hoje precisam de cativar a editora, e mais tarde precisam de cativar os leitores – mas nada disto vale a pena se o livro for mau ou estiver mal escrito.
Revê o teu livro. Sim, novamente. Podes sempre retirar diálogo inútil e descrições longas.
Se rejeitas esta ideia… Corta 15% do teu livro. Sim. 15%. É um bom desafio.
Pronto,
O resumo está escrito.
As primeiras 5 mil palavras (ou a percentagem que a editora quiser ler – visita o site) estão prontas, sem erros ortográficos, e o texto está justificado.
O teu livro encaixa-se bem no género em que escreves, e tu sabes onde é que queres levar a tua carreira de escritor.
Agora falta escreveres o email à editora.
4. a pesquisa
A minha pesquisa foi longa porque demorei quatro anos a escrever e editar o livro.
O objetivo da pesquisa é descobrir quem publica aquilo que eu escrevo:
quem foi a equipa por detrás de livros semelhantes ao meu?
como é que esses livros foram publicados?
Ou seja: escrevi um romance histórico sobre o feminismo. Quem publicaria uma coisa destas?
Durante a pesquisa, eu tirei várias fotos à estante dos romances históricos de maior parte das livrarias que visitei:
Quais os autores portugueses a serem publicados no meu género?
Isabel Stillwell, Isabel Machado, João Leal, Daniel Pinto, Paulo Moreiras, Maria João Lopo de Carvalho, Tiago Rebelo, Domingos Amaral, Patrícia Muller, Sara Rodi… sendo que o único estreante é o Daniel Pinto.
Nenhum dos outros autores tem aqui o seu primeiro livro.
Que editoras é que os publicaram?
Planeta, Manuscrito, Oficina do Livro, Alma dos livros… (A guerra e Paz também publica alguns romances históricos).
Outros livros por que me guiei foram «A Escrava Açoriana» e «No tempo das cerejas» ambos da Cultura Editora.
Segundo a estante da livraria….
Maior parte dos livros publicados são biografias romanceadas, que decorrem em Portugal, cuja figura principal é portuguesa.
E 99% dos autores não são estreantes – já publicaram meia dúzia de livros nesse género.
Quem é que publicou os livros semelhantes ao meu? A quem devo enviar o meu livro?
A equipa normalmente está descrita na ficha técnica do livro.
Se não aparecer o “editor” do livro, podes:
podes perguntar ao autor, ele pode estar com vontade de te contar;
o editor daquela casa editorial pode ser conhecido nas redes sociais e logo pelo nome da editora já sabes quem é que edita/ escolhe os manuscritos
está no site da editora
está no Linked in
Saberes quem é o editor por detrás daquele projeto é muito importante porque muitas vezes é essa pessoa a quem deves endereçar o teu email.
O endereço do email aparece no preview text do email, é importante ter o nome certo.
Isto é muito importante!
Tu: Mas ninguém lê os emails que eu envio!!!
Em agosto, assisti a um vídeo de uma influencer que, ao aconselhar outras influencers, lhes dizia para instalarem um email tracker no email – é uma extensão da google. Assim, ao enviarem emails às marcas com quem queriam trabalhar, conseguem ver se alguém abriu o email, e quantas pessoas viram o seu email.
A ideia pareceu-me genial.
Instalei um email tracker: um programa que basicamente te diz se o email foi aberto ou não. Eu aprendi muitas coisas.
Antes de agosto de 2024, eu acreditava em algumas crenças falsas sobre o mercado:
Os editores não têm tempo para lerem todos os emails que recebem.
Os editores, porque não têm tempo, não abriram o meu email.
Porque não abriram o meu email, não leram o corpo do email, nem leram o meu livro.
Assim, se nem abriram o email e se não leram o meu primeiro capítulo, rejeitam-me porque nem sequer sabem o que tenho para oferecer.
Eu fico frustrada e quero gritar com toda a gente. A culpa é toda deles e não sabem o que estão a perder.
Podemos dizer que a minha experiência contraria tudo isto:
Eu instalei um email tracker.
Como é que funciona? Envias um email com o tracker instalado. Mal o email é enviado parece um pequeno ponto no canto do email, a dizer que ainda não foi aberto. Mas quando for aberto por qualquer pessoa, passa a ser um check naquele lugar, em vez do ponto.
Quando comecei a mandar os emails, para surpresa minha – por achar que não iria ouvir nada em dois meses porque os editores adoraram ignorar os novos autores – 98% dos emails foram abertos em menos de uma hora.
98% em menos de uma hora !
Lembro-me de enviar meia dúzia de emails, ir à casa de banho, e voltar e puf! Abracadabra email foi lido.
O que tinha a dizer: este agosto percebi que quase todos os editores portugueses que eu contactei abriram o meu email. Provavelmente abriram o teu também.
Instala um email tracker.
Para onde enviei o meu email?
Enviei 29 emails em agosto. Mas não existem 29 editoras interessadas em romances históricos por autores portugueses…
Outra coisa que tive oportunidade de tentar em agosto foi:
endereçar a minha candidatura para o email do editor, em vez do email de receção de manuscritos sugerido.
Decidi fazer isto porque causa da Dr Sheena Howard e o seu famoso vídeo sobre a colaboração com a Marvel. O que ela fez quando queria colaborar com a marvel? Mandou email para o editor in chief a explicar o que já tinha feito, e a dizer que adorava colaborar.
TEVE UMA OPORTUNIDADE UM ANO DEPOIS.
Depois de agradecer ao editor in chief – alguém que ela nunca conheceu pessoalmente – ele respondeu-lhe e pediu-lhe desculpa por ter demorado tanto tempo a dar-lhe uma oportunidade.
Outra história semelhante tem Alex Banayan para contar no seu livro “The Third door” – contactar as pessoas diretamente tem muita força. Lê este livro. É muito bom.
Se os editores recebem emails, 90% é enviado para o email de receção de manuscritos indicados no site da editora (estes emails também são abertos, by the way), e por isso, para fugir desse ruído, eu pensei que podia enviar o meu email para o email profissional do editor, onde recebe 2 ou 3 emails por dia.
Mas eu não conheço ninguém na indústria.
Pedi a vários autores vários emails, e nenhum deles abriu a boca – respeito também essa decisão.
É aqui que me recordo das aulas teóricas de Direito Processual Civil. São tão aborrecidas como parecem. Eu não nasci para querer saber de comarcas. Nasci para contar histórias.
Depois de Dr Shenna e do Alex Banayan, eu sabia que tinha de contactar os editores diretamente, fosse presencialmente ou online. Let the games begin.
Como encontrar o email dos editores?
Eu mergulhei no Linked in. Segui toda a gente da indústria no linked in.
E sabes qual foi a maior surpresa da porra do linked in?
Maior parte dos editores têm o seu email no linked in.
Sim, minha gente. Sim. Eu gritei muito depois de descobrir isto.
Entra no linked in » pesquisa pela editora que queres » clica em “pessoas” » procura alguém cuja profissão aparece como “editor” ou “consultora editorial” e clica na pessoa » clica em “ver contacto”.
O contacto profissional de muitos editores está lá.
Guiada pela força e entusiasmo disto tudo, eu enviei email para muita gente de cada editora, 5 ou 6 pessoas. Assim chega-se a 29 emails facilmente, sendo que também enviei para o email de receção de manuscritos da editora.
A parte melhor do Linked in é que, quando te dedicas e começas a seguir e conectares-te com pessoas da indústria dos livros, o linked in, pelo algoritmo, pensa que tu também fazes parte da indústria dos livros – e tem razão, vais fazer parte, por isso, sugere-te mais pessoas com que te deverias conectar. E do nada tens montes de nomes a quem enviar o teu livro.
Mas agora… o que escrever no email?
5. o corpo do email à editora
O email à editora – chamado carta de apresentação – tem 5 partes:
1. endereço
2. Hook
3. Sinopse do livro
4. Justificação
5. Bio de escritor
Uma nota: Na minha opinião, toda a carta de apresentação é um grande “pitch”, por isso, se estavas a pensar mandar dois parágrafos num documento em anexo para convenceres o editor a ler o que escreveste, esquece. Podes integrá-los no email.
Escritores verdadeiros não guardam segredos, por isso, este foi um dos emails que enviei:
O Endereço
O endereço do email é a primeira linha.
Em 2019 cometi o erro de escrever “Caro editor” e seguir em frente.
Em 2024, o plano era outro.
Como escrevi emails personalizados para cada editora, podia também abrir o email com o nome da pessoa para quem enviei o email – e tirando o email do linked in, podia escrever o nome dela.
Como já escrevi, é importante abrir o email com o nome certo. Sobressaí.
Começa o email com “Cara x e x,”.
Hook
O Hook é a razão pela qual a pessoa está a ler este email
Depois do endereço correto, foi com isto que abri o meu email:
“Escrevi um romance histórico intitulado “As Filhas da Revolução” que apela a fãs de “O Tribunal das Almas”, “A menina invisível” e “Weyward” — uma combinação entre o romance proibido de Bridgerton e a crueldade de “Os Miseráveis”.
No romance “As Filhas da Revolução”, seguimos duas mulheres ficcionais (inspiradas Mary Wollstonecraft e Olympe de Gouge) durante a Revolução Francesa:”
Este parágrafo responde à pergunta do editor por que estou a ler isto?
Vamos devagar:
1. Escrevi um romance histórico intitulado “As Filhas da Revolução”
2. que apela a fãs de “O Tribunal das Almas”, “A menina invisível” e “Weyward”
No teu email, precisas de títulos de comparação: títulos de livros que são semelhantes ao teu, para dar a ideia ao editor que o teu livro se encaixa no mercado atual. Eu tentei que os meus títulos de comparação fossem da editora para onde me candidatei, por isso mudei de títulos de comparação muitas vezes.
Outros exemplos de títulos de comparação que eu usei:
“A lista de Sr Malcolm”, “Maria, Rainha dos Escoceses” e “Weyward”
Nunca enumeres livros muito famosos. É ridículo comparares o teu livro com Harry Potter. Procura livros atuais, publicados à menos de dois anos, mas se não encontrares algo muito adequado, tenta colocar títulos de comparação no email. Valem a pena.
Títulos de comparação
Os títulos de comparação também importam porque mostram ao editor que o teu livro terá sucesso comercial, pois é semelhante a outros livros que já tiveram sucesso comercial no passado. Passa a mensagem que a editora consegue vender o meu e o teu livro.
3. No romance “As Filhas da Revolução”, seguimos duas mulheres ficcionais (inspiradas Mary Wollstonecraft e Olympe de Gouge) durante a Revolução Francesa:”
De que fala o meu livro? Bem, o meu livro fala sobre o começo do feminismo no ocidente, com uma versão ficcionada das nossas primeiras feministas.
O objetivo desta frase é que o editor queira continuar a ler, e passe os olhos pela sinopse.
Sinopse
Consegues ler a sinopse na screenshot do meu email.
Tem cerca de 240 palavras.
Justificação
Esta parte foi uma dica que ouvi da Flávia da página Carreira Literária.
Deves justificar o teu envio.
Assim, eu escrevi e respondi a duas perguntas:
“Quem é o público-alvo de “As Filhas da Revolução”?
Fãs de Ken Follett e de Isabel Machado; fãs das séries “The Artful Dodger” e “Bridgerton” e The Gilded Age: Idealmente, mulheres entre os 22 e os 55 anos, que leiam mais de 10 livros por anos.
Por que deveria ser publicado?
Primeiro, a história desenvolve-se durante a Revolução Francesa. Mas não canta os heróis já conhecidos da revolução, e não perde tempo com as mulheres da corte, cujas estórias já foram contadas: o livro toma como protagonistas dois nomes do feminismo ocidental: Olympe de Gouge e Mary Wollstonecraft – as suas vozes merecem ser ouvidas, principalmente neste momento, em que se verifica um fascínio por ficções históricas.
Segundo, o livro conta a história de mulheres que oscilam entre o medo de falar, e a vontade de gritar pela liberdade, para escrever e denunciar um mundo que as acusa de serem um crime, e precisamos de mais histórias vindas dessa perspetiva.
Terceiro, eu sempre me senti cativada por romances e História, mas queria uma nova história, com novos protagonistas –que soem atuais e apelativos.”
Esta parte não é obrigatória, mas isto facilita o meu trabalho.
Numa reunião, se me perguntarem “por que deveria ser publicado? O que traz de novo?”, essa informação já esta escrita.
Se decidires responder a estas perguntas no teu email, boa sorte, mas não te demores na resposta.
Bio de escritor
E no fim, eu introduzi a minha pequenina carreira na escrita.
Alguns autores com quem falei disseram para eu começar pela bio de escritor. Ou seja, no início do email, explicar quem sou.
Eu acho que colocar a bio de escritor no início é estupido. Eu prefiro que o editor goste da história e continue a ler o email, do que se perca a ler detalhes sobre a minha vida… Não sou conhecida na indústria, por isso começar a falar de mim seria uma perda de tempo.
Foi isto que escrevi na bio:
“Olá, escrevo como Maria Soares de Albuquerque e recebi alguns prémio literários para jovens: três menções honrosas no prémio literatura juvenil Ferreira de Castro, em 2018, 2020 e 2021; Recebi o terceiro prémio no Prémio Literário João Estevão em 2018 e recebi o terceiro prémio no concurso literário Professora Rosinda de Oliveira em 2022;
Estou a construir uma newsletter onde escritores e leitores se encontram para falar de livros.
Ficam os meus contactos e, em anexo, a sinopse e os primeiros capítulos.”
Se não tens prémios literários e se nunca publicaste nenhum livro (ou publicaste com uma editora vannity), explica que estás empenhado a aprender a arte da escrita e participas regularmente em concursos literários.
Se tens conta no instagram como leitor ou como autor, é a hora de mencionar.
Como se nota, eu não comentei sobre minha conta de instagram – é um grande erro.
6. O que faria se fosse hoje?
1. Adicionaria um parágrafo a falar do meu plano de marketing para o livro e anexava um documento com o plano detalhado.
O objetivo de enviar um plano de marketing na candidatura às editoras não é para que este seja analisado ao pormenor e para que eu seja escolhida só porque fiz um plano de marketing. Ninguém vai escolher um mau livro só porque enviaste um plano de marketing.
Eu irei enviar um plano de marketing porque mostra ao editor que, como autora, eu estou interessada e preocupada com o sucesso comercial do livro e que vou trabalhar para lá chegar. (Vou de certeza trabalhar mais do que a editora para que o livro tenha sucesso nas vendas.) E é melhor deixar isso claro no email do que me preocupar em tornar as minhas capacidades de marketing no futuro.
2. Documentaria todo o processo
Passei pela adrenalina dos emails e das rejeições sozinha. E gostava de ter gravado esse processo.
7. E se não me responderem? Posso mandar email novamete?
O meu plano era escrever dois emails:
O primeiro está acima, cerca de 300 palavras
Um segundo, com 150 palavras.
“Já leram o meu livro?” É a pergunta mais triste.
Eu prefiro mandar-lhe o livro novamente, com o primeiro capítulo editado, num email mais pequeno.
Sabes o que também podes fazer? Mandar o livro impresso por correio. Sim, podes mandar o teu livro pelo correio, por mais que não seja prático…
EU VOU FAZER ISTO EM 2025:
Vou fazer todo um pacote fofinho com doces e confetti. Com o meu livro no fundo. É um plano louco. Eu sou louca. Tudo bem.
Tipo o que a Codie fez com milionários, mas eu vou tentar contactar os editores portugueses:
8. E agora?
Tive 4 editoras interessadas. 2 reuniões. 1 proposta de edição.
Foram ótimos resultados.
Em 2019 enviei 20 emails e ninguém estava interessado.
Se tivesse levado essas rejeições a peito… teria desistido.
Mandar o teu livro à editora é pesado, e emocionante, e por favor revê o texto do email, mas o que acontece é que um dia vais achar que és uma falhada e que não escreveste nada de jeito, e no dia seguinte vais saltar de felicidade porque alguém está interessado.
E quando não recebes resposta morres novamente.
AND REPEAT!
É uma montanha-russa de emoções. Quando enviares o teu primeiro email às editoras, vem gritar para as minhas dms em @maria_soares_albuquerque_ e podemos gritar juntas!
Quando te enviarem um contrato, olha bem para o raio do contrato. Manda-me o contrato – a licenciatura em direito haverá de valer a alguém – e discutimo-lo juntas. Mas não penses que tens de aceitar porque nunca receberás outro. Girl, o que não te faltarão são contratos de edição no teu futuro. Tens tantos livros para escrever… não te entregues a alguém que não te pagará pelo teu trabalho, ou que não valoriza o teu livro.
E se ninguém acredita no valor do teu livro, girl, vai escrever outro e bate-lhes com o teu novo livro na cara. A opinião de um editor estagiário numa editora a morrer não vai acabar com a tua carreira literária…
Continua a lutar.
Os maiores escritores hoje foram, há uma década, escritores como tu e eu que apareciam em bibliotecas vazias para falar do seu livro. E só chegaram ao topo porque continuaram a escrever.
O sucesso na escrita demora.
Eu passei quatro anos a escrever um livro que eu, no fim disto tudo, escolhi não publicar – parece divertido. O processo de edição do livro foi longo e tanto em 2022 como em 2024 recebi feedback negativo sobre o livro – sim, depois de 4 anos a escrever o livro. Em março de 2024 pensei em desistir do livro e desistir da escrita. Em oito anos a escrever eu consegui tão pouco…
Mas desistir vai dar-te alguma coisa? Não.
O sucesso na escrita demora porque aprender a escrever também demora.
Mas o filme do teu livro não acontecerá se não o escreveres. E se o livro não for publicado, nunca lá vais chegar.
Força.
Vais levar com muitos nãos. Mas se aprendi alguma coisa, é que mais vale bateres em 100 portas do que na mesma porta 100 vezes – dito pelo Alex Banayan quando lhe mandei uma dm.
Como é que podes bater em 100 portas?
É preciso esforço, mas além de esforço – e isto eu ainda estou a aprender – precisas de um bom livro e da ajuda da pessoa certa. Contrata alguém para te ajudar com esta loucura que é publicar um livro em Portugal. Procura uma consultora editorial ou mentora para te ajudar, para ver aquilo que tu não vês.
A pessoa certa vai poupar-te anos de trabalho.
9. Precisas de um agente literário?
Em 2019 diria que não. Gritaria que “o mercado português funciona contactando as editoras diretamente.”
Em 2025, isso ainda é verdade, mas, entretanto, o mercado mudou muito.
Hoje, as editoras abrem todos os emails que recebem, no entanto:
De todos os emails que recebem, 10% desses livros estariam dentro do género que a editora publica e é uma história interessante o suficiente que motivaria a editora a passar meio ano a editar o livro. Editar verdadeiramente – cortar e acrescentar capítulos, repensar as personagens… Editar.
Mas porque a editora não quer esse trabalho…
Ou porque a editora não consegue contratar alguém para fazer esse trabalho…
Ou não pretende inundar o mercado de novos livros…
Ou porque não tem publico conquistado nesse género…
A editora rejeita 8% desses livros que teria interesse em publicar. E foca-se nos 2% de livros que recebe e de que gosta e que estão prontos para publicação.
Como é que entras nesses 2% de livros selecionados?
Com um agente literário. (Eu estou neste momento a morder a minha própria língua)
Deixa-me explicar.
Para construíres um bom livro, precisas de um editor contigo. É uma necessidade. Precisas de alguém objetivo para te ajudar a rever o livro.
Podes até te bastar com um ou dois pareceres editoriais ou leituras críticas mais uma mão cheia de beta readers honestos…
Mas precisas de alguém para te dizer se o livro faz sentido, se cumpre as promessas do género ou se tem potencial de ser publicado em Portugal.
No meu caso, eu preciso de um editor porque faz a edição e revisão ortográfica num só serviço.
Pronto, precisas de alguém a ajudar-te (já que ninguém o vai fazer quando chegares à editora, até porque só te aceitam se o livro já estiver em bom estado a nível da edição).
Hoje em dia, nessa pessoa do editor freelancer que tu acabaste de contratar porque eu te mandei fazê-lo, podes também pedir-lhe para enviar o livro às editoras.
Again, deixa-me explicar-me:
Podes contactar as editoras sozinha? Podes.
O email que enviares à editora vai ser lido? Vai – para o bem ou para o mal, o email vai ser lido. Se usares estas dicas, o teu email vai ser lido.
Se o email estiver bem escrito – e cumprir o seu propósito – o teu documento será aberto e se houver interesse da editora, o teu primeiro parágrafo ou o resumo do livro será lido.
Depois… é no man’s land.
Se o livro estiver revisto e bem editado, as pessoas do outro lado do email perceberão isso. Se for uma história dentro do género que a editora publica, talvez gostarão da história e pensarão publicar o teu livro. Yay!!
Não sei o que é tomar essa decisão… mas se me colocar no assento dessa pessoa, e fechar os olhos e imaginar a vida profissional dessa pessoa – o meu trabalho seria facilitado se eu recebesse um email profissional de uma pessoa em quem eu confio a contar-me sobre um livro que ela também gosta.
Se um amigo te disser eu sei que a editora não quer perder dinheiro com uma má aposta, mas eu acabei de editar este livro com uma autora portuguesa e acho que vais gostar, eu prestaria atenção.
Eu era capaz de dar à autora uma reunião, ouvi-la. Eu dava uma chance.
Se um antigo colega de trabalho – ou uma pessoa conhecida da indústria dos livros – me contactar a dizer que fez o meu trabalho por mim, o que acham que eu vou dizer? Eu vou dizer que sim!
Talvez nem todos os editores pensem assim…
Sei que não precisas de “conhecer alguém” na indústria para publicar um livro em Portugal. Precisas de trabalhar. Precisas de escrever um bom livro e conquistar público e estudar marketing.
Não precisas de “conhecer alguém” na indústria para publicar um livro, mas será difícil chamar a atenção dos grandes grupos editoriais sem um agente literário.
Essa será uma trend que ocupará o nosso mercado nos próximos 5 anos.
Claro que as pequenas editoras continuarão a dar chance aos novos autores.
Mas já que vais contratar alguém para te ajudar a corrigir e melhorar o livro… e se essa pessoa conhece o editor com que queres trabalhar…
Isto pode parecer injusto. Eu percebo.
Mas tal como entre dois livros com potencial tu serás deixada para trás em troca de um autor com público conquistado e presença nas redes sociais… os agentes literários chegaram para ficar.
Por definição, um agente literário recebe uma comissão para pagar o seu trabalho. Ou seja, recebe parte do que o autor receber. Ou seja – não é pago à cabeça, como o trabalho de edição.
No entanto, isso já não é o caso dos consultores editoriais.
Os consultores editoriais são pagos pelo seu trabalho como um editor, à cabeça, independentemente dos resultados.
Isso abre a porta a muitas fraudes. Abre os olhos. Se não confiares na pessoa com que trabalhas, pensa em negociar um modelo de pagamento em que a pessoa só recebe maior parte do dinheiro se realmente assinares o contrato, em estilo de bónus com condições bem descritas e acordadas entre os dois.
De qualquer forma, podes contactar as editoras tu própria. E deves tentar. Boa sorte.
10. Recursos
O curso que eu fiz:
https://escreverescrever.com/series/publicar-o-meu-livro/
Boa sorte,
Maria
Maria, este guia é excelente! Aprendi muito mais aqui do que nos poucos meses com a minha editora. Obrigada! ❤️