“eu escrevo e a editora edita.” disseram-me uma vez e eu engoli uma pedra.
Como assim? Se nunca editaste os teus próprios livros, então, é por essa razão que a editora rejeitou o teu livro.
Eu já cometi esse erro: mandar livros sem editar, com erros básicos e frases que não fazem sentido. Porque “li e parecia-me bem”. Rio-me disso hoje porque sei que nunca o farei novamente.
Escrever é humano. EDITAR É DIVINO.
Não é uma coisa deste género?
Sim, mas isso é coisa para a editora.
Não. Isso é para o autor até o livro lhe sair pelos olhos.
Podes ter escrito pouco, e serem necessárias clarificações. Mas na cabeça do escritor, onde as cenas acontecem como num filme, tudo é claro!
Podes ter escrito amais e aborreceres o leitor, e precisas de saber que parágrafos manter, e o que cortar (o que pode doer mas terá que ser).
Mas para os novos autores portugueses, se editar é divino, onde se encontra um deus, para editar os nossos livros?
Vamos primeiro falar do PROCESSO DE AUTOEDIÇÃO DE UM LIVRO:
Cada autor é diferente, mas das rotinas que conheço, tem sido semelhante a algo assim:
Terminei o terceiro rascunho do meu livro ontem, e perguntaram-me quantas vezes “leio o livro”.
Eu não vejo como “ler o livro” porque eu destruo o que eu escrevo. Mas antes de destruir e riscar tudo, tenho que l-e-r por isso:
O meu processo de escrita
Uma outline específica de acordo com os 3 atos e o arco das personagens
PRIMEIRO RASCUNHO - escrevo o livro inteiro (num mês se for apenas uma personagem principal, tipo 60 mil palavras OU 3 meses se forem duas personagens, tipo 120 mil palavras ou mais).
Deixo o livro descansar 2 a 4 meses (enquanto escrevo outra coisa). Este tempo é essencial para conseguir esquecer as palavras que estão na página, mas não desistir do projeto.
SEGUNDO RASCUNHO - reescrevo o livro. SIM, RE-ES-CRE-VO o livro, do inicio ao fim. Aprendi isto no blog do Ken Follett, e se ele reescreve livros com meio milhão de palavras, eu posso reescrever 250 páginas. Esta é uma forma ótima de corrigir os maiores erros do enredo, inserir capítulos novos, retirar páginas inteiras que eu afinal não preciso e melhorar a prosa.
Deixo o livro descansar novamente.
TERCEIRO RASCUNHO - imprimo o livro, leio-o em papel, fazendo emendas e anotações, por vezes riscando páginas inteiras. Neste novembro, num livro de 500 páginas, ainda encontrei 5 ou 6 capítulos que tive que reescrever porque estavam muito mal. Para mim isto é uma vitória grande. Nos outros capítulos, corto parágrafos ou algum diálogo desajustado, mas nesta altura é raro ter que fazer algumas modificações muito grandes.
QUARTO RASCUNHO - dou o meu livro a uma mão cheia de pessoas e com os seus comentários no documento, e feedback geral sobre o arco do livro, volto a rever o livro. Aplico o feedback dado, e outras coisas que queira acrescentar.
QUINTO RASCUNHO - revejo o livro atentando ao nível da frase. Torno a frase passiva em frase ativa, retiro para palavras como “sentiu” “ouviu” ou “viu” - as chamadas “filter words” que não permitem ao leitor presenciar a cena, mas apenas ler uma descrição.
Posso ter encontrado mais pessoas para dar outra vista de olhos ao texto.
SEXTO E SÉTIMO RASCUNHO - releio o livro novamente, e em 90% dos casos, contrato uma freelancer para fazer copyedits: edição de sintaxe e erros ortográficos e gramática, porque sou horrivel em todos estes.
Normalmente é isto.
Podes chegar à altura de leitores beta e eles perceberem que a tua personagem não faz sentido. E voltares à estaca 0. Já me aconteceu e ainda bem que me aconteceu.
Lê o teu livro alto. Pergunta-te porque é que as personagens se levantam da cama. Reescreve os primeiros cinco capítulos.
O teu livro, depois disso, estará mais forte!
MAS COMO ENCONTRAS PESSOAS?
Contacto duas ou três amigas que são leitoras, e que são honestas!
Por isso destroem as coisas que eu escrevo e amo-as por isso.
Também pedi outras pessoas leitoras que eu conheço para lerem o livro, mas como ainda não me responderam, duvido que tenham lido o livro. E isso é normal. Todos temos a nossa vida.
MAS é importante contactares alguém que já escreve à mais tempo ou que tem algum tipo de experiência profissional com as palavras.
Em 2024 vou contratar um serviço de leitura crítica/parecer de leitura para rever o meu livro depois deste terceiro rascunho para ter a certeza que a história como um todo faz sentido.
Eu vou começar um serviço de leitura critica em janeiro. Se precisares de ajuda com o teu livro, manda-me os teus dois primeiros capítulos!
Se eu quisesse autopublicar o livro, teria que contratar uma editora profissional, mas como publicar com uma editora tradicional, não o vou fazer neste momento. (se decidir autopublicar, então irei contratar profissionais).
Ou seja, quem é que são os meus betas? Os meus amigos, em modo de resposta curta. Mas AINDA SÃO os meus amigos porque não dizem coisas como “muito bem”.
COMO ENCONTRO BETA READERS?
Pois, clubes de leitura.
Um post nas redes sociais à procura de leitores. Podes sempre perguntar se, quem leu livros parecidos com os teus, gostavam de te ajudar.
Mesmo que não encontres ninguém, ou se enviares a várias pessoas e ninguém te responder, sê paciente. Contrata um serviço pago. Podes ter a certeza que a pessoa vai ler até ao fim e dar feedback construtivo.
Por favor não saltes este passo.
É uma das partes mais importantes em ser autor.
Espero que tenham tirado valor deste post! O que querem que fale a seguir?