Como conquistar público antes de publicar o meu livro?
Talvez seja mais simples do que imaginas
A primeira candidatura séria às editoras a falar sobre a possível publicação do meu romance histórico durante a revolução francesa foi enviada em agosto de 2024. Foi um mês de loucos. Enviei 28 emails.
Um deles foi para a Guerra e Paz, que na altura, estava a escolher alguns autores portugueses e a publicar o seu trabalho. Pensei que o meu livro se encaixa. Enviei-lhes o meu livro. Depois de um mal-entendido – o diretor da editora confundiu-me com outra Maria que tinha conhecido antes – tive uma reunião com a editora.
Uma reunião! Devem ter adorado o meu livro! Estava super ansiosa. Alguém do mercado editorial gostou do meu livro! Vão publicar o meu livro. Haverá sessões de autógrafos na feira do livro! O meu grande sonho está prestes a realizar-se. Eu estava nas nuvens.
Quando chegou ao dia da reunião, a editora esqueceu-se que tínhamos combinado reunir-nos pelo zoom. Enviei-lhe email meia hora depois de entrar numa sala de zoom vazia e ficar a olhar para mim mesma, a tentar não me mexer muito e não engelhar a camisa que vesti. A editora confessou que se tinha esquecido e reunimos.
A senhora confessou que ainda só tinha lido o começo do livro, e que gostou do que leu. Percebi rápido que aquilo tinha sido uma perda de tempo quando ela começou a falar do mercado literário português.
Se eu conheço o mercado? Minha cara, eu frequento apresentações de livros semanalmente, subscrevo à newsletter da APEL e já li tantas vezes o «Como publicar o seu livro?» que o livro se desintegrará daqui a pouco tempo. Conheço a estatística, vou a festivais literários, paguei por um curso intensivo “como publicar o meu livro” lecionado por uma editora da Leya e ela ficou impressionada com as rejeições que recebera até aquela data. Foram 21.
Mas não queria parecer arrogante, e então, disse que são publicados 35 livros por ano em Portugal, que é difícil um novo autor fazer um bom trabalho de divulgação sozinho, mas que eu estava a trabalhar numa newsletter que já contava com algumas centenas de escritores e leitores, que iam acompanhando o meu trabalho e lendo os meus contos.
Ela explicou-me que “o mercado é pequeno” e que não se vive da escrita em Portugal e ficámos por ali.
Pouco mais tarde – algo raro no mercado português – ela enviou-me um email a dizer que terminou de ler o livro que eu tinha enviado.
Olá, Maria,
Espero que te encontres bem.
Tive a oportunidade de ler grande parte do teu livro e, infelizmente, cheguei à decisão de não avançar com a publicação.
Gostei bastante do que li, mas acho que deves procurar uma editora mais vocacionada para este género e que consiga dar-te um acompanhamento muito forte. Digo isto porque para o público-alvo do teu livro, vais precisar de fazer um enorme (como te disse na nossa conversa, vai ter de ser o foco principal da tua vida fora do teu trabalho normal) esforço de comunicação e promoção.
E, neste momento, nós não temos capacidade de te acompanhar na construção da tua “imagem” como autora, principalmente num género que não costumamos trabalhar.
Desejo-te muito sucesso!
Beijinhos,
Obrigada Rita. A sério. Receber um email destes é raro no mercado português. Quero agradecer o seu tempo e dedicação ao meu livro.
As preocupações da Rita são válidas.
Não sei se a editora se dedicasse ao romance histórico ela teria publicado o livro – atendendo à minha falta de “imagem de autora” – ou se o marketing continuaria a ser um entrave. Essa pergunta nunca terá resposta.
Seria a resposta diferente se eu tivesse dez mil seguidores? Sim, seria. Ela própria admite que se eu tivesse uma imagem de autora consolidada, as coisas eram muito diferentes.
Como se constrói uma imagem de escritor?
Eu acho que a Rita também não sabe.
Mas prometo que me vou esforçar. Se nada resultar, posso sempre ir dançar para o tiktok. Talvez assim pensem que tenho público conquistado.
Não gosto de reclamar, mas odeio pensar que, se escrevesse há vinte anos, seria meramente julgada pelas palavras que coloquei numa folha de papel, e não pelo número de seguidores no tiktok. Mas o mundo mudou. Para o bem ou para o mal, hoje os autores podem vender os seus próprios livros, e podem chegar aos seus leitores diretamente.
De que devo falar para conquistar público, sem ter algum livro publicado?
Não sei. O que tenho feito é partilhar o que vou aprendendo sobre a escrita, alguns contos e crónicas.
Para quem também enfrenta esta cruel pergunta “como conquistar público sem livro publicado?”, meus companheiros, a resposta a que cheguei foi: escrever um pequeno ebook (ficção ou não ficção) para oferecer a quem subscrever à tua newsletter.
Os escritores terão mais facilidade em manter uma newsletter do que aprender as dancinhas do tiktok. Uma newsletter é constituída por o que tu quiseres – pode ser apenas um bloco de texto se quiseres, a falar sobre o que tu quiseres. Eu uso o Substack como plataforma para publicação da newsletter.
De que deves falar na newsletter?
Podes publicar:
contos
páginas do teu livro em progresso
crónicas
updates de trabalho ao responderes à pergunta como vai a escrita?
Se a síndrome de impostor te atacar, podes sempre seguir a newsletter do autor Austin Kleon.
Todas as semanas ele faz uma lista de 10 coisas que ele quer relembrar ou contar aos seus leitores: ele escreve sobre o que leu naquela semana, que filmes assistiu e fala sobre o que está a trabalhar. É uma simples lista que o autor envia a duzentas e cinquenta mil pessoas.
Basicamente, a melhor coisa sobre teres uma newsletter é que os teus leitores recebem um pouco de ti todas as semanas no email.
Este foi o último post do Austin Kleon na sua newsletter:
Pensem, o que podem oferecer aos leitores?
Provavelmente, mais do que imaginas.
Apesar da dificuldade em ser escritor atualmente com essa lógica de que temos de aparecer e nos vender tanto quanto a nossos livros, acho que as pessoas têm uma visão muito estreita das redes sociais. Não é preciso dançar! :P
É engraçado eu defender algo que eu desdenhava há algum tempo, mas tenho tido uma experiência excelente com o TikTok, sem ter de recorrer a qualquer tipo de truque para viralizar ou coisa do tipo. Ao invés de dançar... falo sobre livros! E é bem melhor: que tipo de espectador terias, se dançasses? Certamente não o tipo que compra livros...
A verdade é que o fato de termos acesso às redes sociais abre muitas portas. Talvez não as que gostaríamos... mas é melhor ter uma porta aberta do que nenhuma.